Levantadora da seleção de vôlei na década de 1980 e depois medalha de
ouro com Sandra Pires no vôlei de praia, em Atlanta 1996, a técnica só
tem fama de “brava”: é tranquila para ensiar e diz que “leva jeito” para
ser professora.
Jacqueline, tornou-se uma celebridade no vôlei de praia dos EUA |
Uma revolucionária nas relações entre atletas e dirigentes do vôlei
brasileiro, Jacqueline depois fez história na conquista da primeira
medalha olímpica de ouro feminina para o país – em dupla com Sandra
Pires, na estreia do vôlei de praia, na Olimpíada de Atlanta 1996, já
famosa no esporte nos Estados Unidos como Jackie Silva. Hoje, é a
técnica da equipe brasileira feminina de vôlei de praia sub-21, que já
treina visando à Olimpíada do Rio de Janeiro 2016.
- Tem um grupo de dez jogadoras, quase 20, somadas de sub-19 e
2ub-21. Mas estamos buscando jogadoras novas – mesmo sendo jogadoras de
quadra! O vôlei de praia mudou muito, não é mais aquela “última saída”
dos jogadores de quadra antes de parar com o esporte profissional.
Aquilo “para quem está se aposentando”. É, sim, uma oportunidade.
Mais liberdade, mais responsabilidade
A perspectiva do jogador profissional de vôlei mudou, observa
Jacqueline. Hoje, há jogadores de quadra que passam ainda novos para o
vôlei de praia, além daqueles que já começam na areia.
- Há espaço para os jogadores jovens. Tanto que existem alguns de 20 e poucos anos já com duas Olimpíadas, indo para três.
O estilo de vida é diferente, apesar do treino ser tão duro quanto, como explica Jacqueline.
– Há mais liberdade. Mas a responsabilidade de cada um também é maior.
O jogador de vôlei de praia, observa, tem mais consciência dele
mesmo. Precisa fazer as coisas sozinho, nas viagens e competições. E
também no jogo (não é permitido técnico na quadra, nem fazendo sinais
das arquibancadas).
- Temos de indicar essa questão de maior responsabilidade para esses
jogadores mais novos que estão chegando ao vôlei de praia e trazer à
tona a maturidade deles. Na verdade, forçar essa maturidade, porque
ninguém vai fazer por ele. E dentro da quadra também é assim. Os
jogadores tomam decisões, não dependem do técnico. Têm de ser maduros.
Troca de experiências: para lá e para cá
Mas, da parte da ex-jogadora, não é apenas ensinar, mas aprender.
- Pego muito deles para mim. É importante. Na verdade, é um jogo de equipe – para lá e para cá.
Tecnicamente, o vôlei de praia mudou muito, em relação ao início –
quando “Jackie Silva” era das mais conhecidas no esporte, nos Estados
Unidos.
- Como em todos os esportes, os atletas “cresceram”. E a quadra
diminuiu. De nove por nove metros, ficou oito por oito – como já foi na
Olimpíada de Pequim 2008. Não existe mais “balão”, tem de virar na
cortada, mesmo. Assim, as exigências para os jogadores também cresceram.
De toda forma, Jacqueline considera muito importante a formação do jogador pela quadra – pelos fundamentos.
- É como dança. Melhor fazer balé clássico, antes de jazz, por exemplo… A base é muito importante.
Espetáculo de praia mudou cultura na China
Outro ponto importante, na passagem das últimas décadas, foi quanto ao crescimento mundial do vôlei de praia.
- Não é mais Brasil e Estados Unidos. Hoje temos a Alemanha
investindo muito no vôlei de praia. Holanda, Itália, China! O vôlei de
praia mudou a China culturalmente! As chinesas nem podiam pegar sol!
Mexeu com a cultura das meninas. A China está pintando com equipe
extraordinária – já tem três etapas do Circuito Mundial.
Se como jogadora (de quadra), na década de 1980, Jacqueline ter
ficado com imagem de “brigona” (porque questionava determinações e
posturas de dirigentes com relação, por exemplo, a patrocínios), hoje a
técnica explica que não é “brava” e sim tranquila. Tem paciência e
sempre gostou de ensinar.
- Eu sou calma, tenho paciência… Na verdade, eu sempre fui
professora! Levo jeito. Com 15 anos de idade, já ensinava na minha
primeira escolinha. No vôlei de praia também, porque fui uma das
primeiras e tinha mais experiência, por exemplo, quando fiz parceria com
a Sandra.
Novas gerações já nascem “profissionalizadas”
As jogadoras, hoje, já chegam mais profissionalizadas, diz Jacqueline.
- A gente era amadora. Viemos no meio da história porque amávamos o
esporte acima de qualquer coisa. Hoje, elas nascem vendo que a
possibilidade de ser uma profissional do esporte existe. Já têm uma
ideia totalmente diferente.
Quanto à Olimpíada de Londres (de 27 de julho a 12 de agosto), Jacque
“bem que gostaria” de ir, mas há Mundiais do Vôlei de Praia Sub-19 (em
Larnaka, Chipre), em julho, e Sub-21 (em hallifax, Canadá), em agosto. E
lá que a técnica estará – preparando o grupo para a Olimpíada do Rio de
Janeiro 2016.
*Denise Mirás, do R7
Foto: Leoni Carvalho/CBV