domingo, 29 de setembro de 2013

Ouro em 1996, Jackie critica geração atual da praia: 'Muitos se perdem'

Jaqueline e Mônica: críticas à geração atual das areiasFoto: Fernanda Duque Estrada
Precursoras do vôlei de praia no Brasil, Jackie Silva e Mônica Rodrigues criticaram a postura da nova geração da modalidade durante um evento na AABB, clube da zona sul do Rio de Janeiro, no último domingo. Campeã e vice da primeira edição do esporte em Olimpíadas, no ano de 1996, nos Estados Unidos, as ex-jogadoras afirmaram que faltam foco e personalidade aos atuais atletas em uma comparação com os da geração delas.
Na opinião de Jackie, o objetivo principal das duplas é prioritariamente financeiro.
- Acho que (na minha geração) tinha mais gente. Tinham mais jogadoras de personalidade, que se comunicavam, se falavam. Tinham uma presença diferente. Hoje, os jogadores são só jogadores. Naquela época, nós construímos um esporte. O interessante é que, hoje em dia, a busca dos atletas é completamente diferente. Tem muito o lado material. É muito esse negócio de grana, grana e grana - criticou Jackie.
A falta de estudos e a de formação pessoal são apontadas pela ex-jogadora como os principais vilões dos esportistas brasileiros, que, na sua opinião, não sabem o que fazer quando decidem parar de jogar.
- Existe muita depressão, falta definição sobre o que você quer fazer, falta estudo. Isso é impressionante no Brasil, como os atletas deixam de estudar para praticar esportes. Nos países mais evoluídos do mundo, o esporte anda em conjunto, aqui não. Aqui, os atletas não são formados e nos outros países são, na sua maioria. O valor que damos para a educação não é legal. Quando chega a uma certa idade, depois de seus 30, o atleta tem que começar uma carreira nova e ele não foi preparado para isso. Então, existe um buraco muito grande, uma escuridão nesse lugar. Alguns se dão bem, mas muitos se perdem. Aquela disciplina, que eles tinham todos os dias, acaba. Aquela coisa de acordar de manhã, amarrar o tênis, se preparar para ir treinar, não existe mais. E outra, você não é mais famoso, isso muda, mexe com o ego porque você não está preparado para perder isso - exemplificou.
- Na nossa época, nós começamos o voleibol de praia no Brasil, nós colocamos em prática a disciplina do vôlei indoor. Tínhamos, como pessoa, a disciplina e a aplicação como características. E isso deu certo. Nós levamos esses conceitos para a praia, sem nenhuma orientação. Não tinha um exemplo. Não tinha absolutamente nada. Nós fomos evoluindo o profissionalismo para a praia e isso aconteceu. A geração de hoje pegou isso pronto. Hoje, o sistema é profissional sim, porém os atletas não têm a cabeça de profissionais. Acho que eles jogam vôlei, eles querem o prêmio bom, têm um técnico que, na maioria das vezes, não é graduado. Isso faz com que a técnica não evolua tanto quanto deveria. Temos grandes atletas, mas precisamos de renovação, que está sendo trabalhada há dois anos pela CBV nas divisões de base, com títulos no masculino e no feminino. O trabalho está sendo feito, porém é a longo prazo e não para agora - revelou a ex-parceira de Adriana Samuel.Já para a medalhista de prata em Atlanta, Mônica Rodrigues, o tipo de dedicação e mentalidade são completamente diferentes dos em relação aos tempos em que era jogadora. A atual técnica da seleção brasileira masculina da modalidade garante que está trabalhando com a nova geração o mesmo modelo vencedor que era adotado no seu tempo de atleta.
Adriana Behar e Shelda vôlei de praia 2004 (Foto: Getty Images)Adriana Behar e Shelda marcaram uma geração do vôlei de praia (Foto: Getty Images)
Símbolo de uma geração após duas pratas olímpicas em 2000 e 2004, Adriana Behar diz acreditar que sua trajetória ao lado de Shelda criou referências na nova geração, que precisa entender que a dedicação tem que ser a mesma tanto dentro quanto fora das areias.
- Você só conquista seus objetivos com muito trabalho. Quando você investe nesse processo, o risco é grande de ficar no meio do caminho, se você perder o foco. O mais importante é o trabalho. No esporte, em qualquer lugar, o treino, a dedicação são mais importantes do que qualquer outra coisa. Vencer, ganhar dinheiro, premiação é consequência do que você faz. Acho importante ter referências. Tenho o orgulho de falar que a nossa geração foi uma referência muito forte. A geração da Jackie, Mônica, a gente um pouco depois, foi uma referência que conseguimos passar. Isso, falo com orgulho. Quando eu e Shelda lideramos o ranking, a nossa postura dentro e fora de quadra foi referência para todos os atletas daquela geração. Não a referência só no ganhar, mas de atitude. Isso faz diferença e você estimula que os outros sigam aquela imagem - disse Adriana, que tem mais de 100 títulos conquistados na carreira, como um Pan-Americano em 1999, além do hexacampeonato no Circuito Mundial e do octa no Circuito Brasileiro.

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