Bicampeão do Circuito Mundial de vôlei de praia vira manager da Fifa e prepara estreia do estádio com rodada dupla da Copa do Nordeste
Roberto Lopes e a esposa Luciana na inauguração do Castelão |
O glamour dos pódios ficou na memória, e a evolução de um canteiro de
obras se tornou o novo troféu na vida de Roberto Lopes. Bicampeão do
Circuito Mundial de vôlei de praia com Franco, ao lado de quem atuou por
15 anos, o ex-jogador aprendeu as funções de um burocrata e se
aproximou do futebol nos quatro anos que se passaram desde sua
aposentadoria. Agora manager da Fifa em Fortaleza, o educador físico é
peça-chave em todo o processo de reforma e reinauguração do Castelão.
Assim como na época em que reinava nas areias, o maranhense vive com a
adrenalina alta, desta vez pelo desafio de coordenar o primeiro grande
teste de um dos estádios que sediará tanto jogos da Copa das
Confederações quanto da Copa do Mundo de 2014.
Neste domingo, em rodada dupla da Copa do Nordeste, o Fortaleza encara o
Sport, enquanto o Ceará recebe o Bahia na sequência. GLOBOESPORTE.COM
acompanha todos os lances das partidas a partir das 17h (horário de
brasília)
Roberto concluiu a faculdade de Educação Física, iniciada ainda na
ativa, três anos depois de sua aposentadoria das areias, em 2008. O
período de dedicação exclusiva aos estudos, no entanto, foi bastante
breve. Convidado para trabalhar na Secretaria de Esportes do Estado do
Ceará, em escritório no próprio Castelão, ele iniciou sua vida nos
bastidores da política esportiva.
O desempenho no novo cargo e o contato diário com as obras de reforma
do estádio fizeram com que o ex-atleta recebesse um desafio ainda maior
em setembro do ano passado. Secretário Especial da Copa em Fortaleza,
Ferruccio Feitosa indicou Roberto para ser manager da Fifa no estado,
uma espécie de gerente geral que facilita as relações entre a entidade
máxima do futebol mundial e o governo local. Por enquanto apenas as seis
sedes da Copa das Confederações possuem o cargo, que depois será criado
também nas demais cidades que receberão jogos do Mundial de 2014.
- O atleta em geral deixa o esporte muito defasado em relação ao
mercado profissional, e sempre me preocupei em não deixar que
acontecesse isso comigo. Quando você se ocupa rapidamente com outras
coisas, dá uma desviada no foco, isso supre um pouco a ausência do
glamour das vitórias, do assédio da torcida, da adrenalina do desafio.
Estou em uma nova fase, mas também supero desafios e batalhas diárias.
Lido com muitas questões administrativas, políticas e de marketing, de
todas as áreas. Quero adquirir o máximo de conhecimento para levar isso a
outros eventos, não só com o futebol. Seria uma honra voltar às
Olimpíadas com outra função, por exemplo – disse, recordando sua
participação ao lado de Franco nos Jogos de Atlanta, em 1996, quando se
despediram na nona colocação.
Nos próximos dois anos, porém, o ex-atleta estará totalmente voltado
para o futebol. O pioneirismo do Ceará nos processos de licitação e a
conclusão das obras do Castelão em dezembro de 2012 deixaram o estado em
evidência, que se tornará ainda maior neste domingo, dia 27 de janeiro.
O primeiro teste do local como Arena Multiuso será feito em evento que
envolve uma logística complexa: rodada dupla da Copa do Nordeste com
confrontos entre Fortaleza e Sport e, posteriormente, Ceará e Bahia.
Apesar da preocupação com a segurança do local, já que haverá encontro
de torcidas com grande rivalidade regional, Roberto confia no sucesso do
evento. Ciente da importância de que tudo saia bem, o gestor acredita
que o estado será motivo de orgulho para o Brasil diante da imprensa
mundial.
- Estamos muito felizes e cientes de que temos uma responsabilidade
muito grande. Não vão ser apenas jogos, mas eventos com um glamour
diferente. O mundo todo vai estar de olho e vai noticiar. Queremos nos
mostrar à altura desta responsabilidade, mostrar ao mundo que o Brasil
está pronto e preparado nos quesitos segurança, transporte, organização.
Temos uma nova arena, com padrões internacionais e torcedores no nível
do campo. Teremos todo o cuidado para cumprir todas as exigências da
Fifa e para que tudo ocorra da melhor forma possível.
15 anos de Franco e Roberto Lopes
15 anos de Franco e Roberto Lopes
Roberto Lopes e Franco: encontro informal (esq.) e pódio em Winnipeg em 1999 (Foto: Editoria de Arte) |
Roberto Lopes nasceu em Bacabal, no interior do Maranhão, e se mudou para Fortaleza com a família aos 12 anos de idade. Fã de futsal, o menino trocou o salão pelas quadras de vôlei a convite do irmão e passou a jogar no time infanto-juvenil (15 a 17 anos) da AABB. Passou por cinco clubes, incluindo o Náutico, até trocar o indoor pelas areias. A ascensão na praia foi rápida e, em 1990, o maranhense já disputava o Circuito Mundial.
Em 1993, Roberto e Franco entraram para a história da competição ao
quebrar a hegemonia dos americanos Sinjin Smith e Randy Stoklos,
vencedores das quatro edições anteriores. Os dois ganhariam mais um
título de temporada dois anos depois, ficando perto de assegurar uma
vaga para estreia do vôlei de praia em Olimpíadas, em 1996 (relembre no vídeo abaixo).
Em Atlanta, no entanto, os dois se despediram na nona colocação. Ao
todo, os amigos disputaram 106 torneios internacionais em 15 anos
juntos, conquistando ainda o bronze do Pan de Winnipeg, em 1999.
- Era uma época mais romântica, em que as parcerias tinham uma
longevidade maior, talvez até pelo fato de sermos da mesma cidade.
Éramos amigos da escola, viramos amigos do esporte e jogamos por 15
anos. Quebramos a hegemonia americana e conquistamos muita coisa. As
lembranças são muito fortes.
Até hoje recordamos esses momentos
gloriosos, que se perpetuaram mesmo depois de ele parar de jogar. E o
carinho pelo outro continua da mesma forma – disse o cearense que,
coincidentemente, almoçava com Roberto nesta quarta quando atendeu ao
telefonema do GLOBOESPORTE.COM.
Desde que se aposentou das quadras, Roberto manteve contato com o vôlei
de forma bem próxima. Além de bater bola eventualmente com os filhos
gêmeos Ricardo e Roberto Filho, o ex-atleta também trabalhou como
auxiliar técnico da seleção brasileira sub-19 e sub-21 em 2010 e, em
Fortaleza, montou um centro de treinamento em parceria com uma
instituição de ensino e a Federação Cearense de vôlei.
No último ano,
porém, afastou-se devido ao trabalho junto à Fifa. Para manter a boa
forma, pratica musculação diariamente antes de cumprir os compromissos
profissionais.
Em 2008, o jogo da despedida: derrota para Ricardo/Emanuel em Fortaleza (Foto: Mauricio Kaye / CBV) |
Aos jovens atletas, Roberto espera deixar um exemplo positivo não
apenas pelo que fez em quadra mas, principalmente, pela esforço para
conciliar a rotina de competições com a preparação para a vida
pós-aposentadoria do esporte.
- O mais difícil para o atleta é o fim, é aceitar que ele tem que parar
de fazer o que mais ama. Por isso é preciso se preparar bem antes do
momento em que o corpo não vai mais aguentar. Eu parti para isso muito
cedo, e quatro anos antes de parar comecei a me preparar, tanto
psicologicamente quanto academicamente. Falo para todos os jogadores com
que tenho contato para entrarem para a faculdade, para investirem em
uma transição menos dolorosa e que renda frutos. É difícil para todos,
mas vejo hoje como valeu todo o esforço que eu fiz.