Ex-modelo, atleta do Botafogo quer aproveitar chance no time verde-amarelo para ganhar bagagem internacional enquanto sonha com participação olímpica
Elize Maia na praia de Iracema, em Fortaleza: beleza a serviço do vôlei brasileiro (Foto: Helena Rebello) |
A silhueta esguia que fez Elize Maia desfilar em passarelas mundo afora
agora pode levá-la a novos caminhos no vôlei de praia. Ex-modelo, a
capixaba apareceu como a surpresa da lista de convocadas do técnico
Marcos Miranda para integrar a recém-criada seleção brasileira feminina
da modalidade, concentrada atualmente no CT Aryzão. Sem resultados
expressivos ao lado de Renata na última temporada, a jogadora de 28 anos
espera usar os períodos de treino em Saquarema para convencer o
treinador de que merece estrear no Circuito Mundial neste ano. Por
enquanto, a primeira oportunidade de defender o país será no Circuito
Sul-Americano, no início de fevereiro.
Elize jogou vôlei de quadra no Espírito Santo, onde nasceu, até receber
o primeiro convite para desfilar. Dos 15 aos 19 anos respirou moda e
morou em cidades como Hong Kong, Nova York e Paris. De volta a Vitória,
em um período de férias, teve o primeiro contato com o vôlei de praia a
convite de um antigo técnico do indoor. Gostou, disputou a etapa local
do Circuito Brasileiro e foi chamada para integrar o Projeto Renovação
da CBV. Passou mais de um ano treinando justamente em Saquarema até
mudar-se para o Rio de Janeiro em 2006 e, de lá para cá, jogou ao lado
de Taiana, Shaylyn, Ágatha e Izabel até acertar com Renata, quarta colocada nos Jogos de Pequim e aposentada desde dezembro.
A parceria com a atleta olímpica, apesar de promissora, rendeu frutos
bem modestos. Na temporada 2012/2013 do Circuito Brasileiro, as duas
disputaram apenas o Open de Curitiba devido a um wild card dado pelos
organizadores. No Nacional, caíram seguidas vezes na semifinal, ficando
sem a classificação para o torneio que reúne a elite, disputado sempre
uma semana depois.
- Na minha temporada com a Renata não tivemos resultados expressivos
mas, pelo objetivo deles (CBV), que é formar times para 2016, acho que
entro no perfil por ser alta. Eu nunca tive a oportunidade de jogar o
Circuito Mundial e não sei como vai ser. Mas acho que estão me dando a
oportunidade de mostrar que posso fazer a diferença tendo essa
experiência. O que me encanta é que a jogadora que joga fora volta com
outra vivência. Acho que engrandece a atleta, que ela volta para o
Brasil com outra visão de jogo. E ter essa bagagem internacional é
importante para quem almeja as Olimpíadas - explicou a atleta do
Botafogo.
Para se encaixar neste perfil de duplas altas, a capixaba trocou até de
posição. Antes bloqueadora, Elize jogou na defesa em sua última
participação no Circuito Brasileiro, em Fortaleza, ao lado de Fernanda
Berti. E a tendência é que ela continue na nova função nas próximas
competições nacionais e nos eventuais compromissos internacionais
defendendo o país.
- Acho que, com o tempo, a altura vai prevalecer mais na praia. Montar
times altos é uma tendência que já está acontecendo em países lá fora, e
acho que pode dar muito certo aqui também. Como três defensoras pararam
agora (Renata, Larissa e Andrezza), parece que faltou gente na função.
Surgiu essa opção de jogar atrás, e acabou aumentando a média de altura
da dupla. Mas não adianta ser alta de não tiver habilidade e
inteligência. Eu tenho esse desejo de seguir na defesa, e é uma
motivação a mais para aprender essa função – disse a atleta, noiva do
preparador físico da seleção, Vinícius Giorni.
As lições das passarelas
Elize Maia faz musculação em treino da seleção feminina em Saquarema (Foto: Divulgação / CBV) |
Nos quase cinco anos em que trabalhou como modelo, Elize aprimorou o
inglês, aprendeu algumas palavras em japonês e, sobretudo, ganhou jogo
de cintura. As viagens constantes e os horários pouco convencionais a
deixaram mais safa e independente. Além disso, passou a regular a
alimentação e a cuidar do corpo como instrumento de trabalho.
- Nas duas carreiras a rotina muda bastante com as viagens,
principalmente com viagens ao exterior, com diferentes fusos-horários.
Tanto na moda quanto no esporte você tem que ter disciplina alimentar.
Tem que ter uma alimentação bacana, um corpo bacana. Imagino como isso
deva ser necessário durante o Circuito Mundial. Se passar meses viajando
sem uma alimentação certa deve ficar muito difícil de aguentar a
demanda.
Elize (de braçadeira do Botafogo) jogará com Fê Berti no Sul-Americano (Foto: Divulgação / CBV) |
A preocupação com a aparência também foi algo que Elize desenvolveu ao
trabalhar com fotógrafos e estilistas. Mesmo ressaltando que, em quadra,
a beleza não ajuda, a atleta sabe trabalhar sua imagem pode ser um
diferencial na hora de fechar acordos de patrocínio, por exemplo.
- Em quadra para jogar importa se você é inteligente e ágil. A beleza
não tem qualquer relação. Mas ter uma boa imagem, ser bem apresentável, é
algo que ajuda na captação do patrocínio. O resultado é
importantíssimo, mas a postura fora de quadra também faz a diferença. É
importante ter um pouco de vaidade, mas sem exageros.
O primeiro compromisso de Elize Maia pela seleção brasileira será na
segunda etapa do Circuito Sul-Americano 2012/2013, dos dias 8 a 10 de
fevereiro, em Viña del Mar, no Chile. A capixaba jogará novamente ao
lado de Fernanda Berti, com Maria Clara e Ângela completando o time
feminino verde-amarelo. No masculino, o país será representado por
Thiago/Álvaro Filho e Evandro/Vitor Felipe.
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Por Helena Rebello/Globo.com